Juan Sebastián Verón, presidente do Estudiantes de La Plata e ex-jogador de destaque no futebol argentino, voltou a provocar debates sobre a disparidade econômica entre o futebol brasileiro e o argentino, após o Flamengo conquistar a Copa do Brasil de 2023. Em suas redes sociais, Verón comparou os valores das premiações do futebol de ambos os países e disparou uma crítica sobre as distorções financeiras que afetam o esporte na Argentina.
Após a vitória do Flamengo sobre o Atlético-MG, que garantiu ao clube carioca o pentacampeonato da Copa do Brasil, o Estudiantes postou em seu Instagram uma publicação ironizando a diferença entre os valores das premiações. O Flamengo receberá cerca de R$ 93,1 milhões pela conquista, um valor que Verón comparou com o prêmio de apenas meio milhão de dólares (cerca de R$ 2,9 milhões) que seu time recebeu ao vencer a Copa da Liga Argentina.
Verón destacou a diferença abismal entre as premiações, lembrando que na Argentina, a soma total dos prêmios da Copa da Argentina, em sua fase semifinal, chega a apenas 171 milhões de pesos (aproximadamente R$ 985 mil). Isso é inferior ao valor que o Flamengo recebeu já nas fases iniciais da Copa do Brasil. Para o presidente do Estudiantes, essas cifras são um reflexo da grave desigualdade que o futebol argentino enfrenta em relação ao brasileiro.
O Flamengo, por exemplo, recebeu R$ 73,5 milhões como prêmio pelo título da Copa do Brasil, enquanto o restante do valor foi obtido ao longo das etapas anteriores da competição, como nas oitavas e quartas de final, com prêmios que variaram de R$ 2,2 milhões a R$ 9,4 milhões por classificação.
Desigualdade Estrutural e Propostas de Reformas no Futebol Argentino:
Verón, um crítico ferrenho do modelo de futebol argentino, acredita que a solução para a crise do esporte no país passa pela implementação das Sociedades Anônimas Desportivas (SADs), que já são uma realidade no futebol brasileiro. O presidente do Estudiantes se alinha a posições políticas do presidente argentino Javier Milei, que também defende a entrada de investidores externos no futebol argentino, como uma medida para aumentar a competitividade e os recursos financeiros dos clubes.
A disputa política envolvendo a Associação do Futebol Argentino (AFA), a AFA e o governo de Milei tem gerado tensões, principalmente após a recente decisão de Milei de eliminar benefícios fiscais para os clubes do país, numa tentativa de forçar a entrada de capital privado e modernizar a estrutura financeira do futebol local.
O ex-jogador, que também se distanciou das políticas da AFA, critica a falta de visão e a gestão ineficaz dos recursos nos clubes argentinos. Ele acredita que a mudança para um modelo de SADs poderia equilibrar as forças entre o futebol brasileiro e o argentino ao longo de uma década, e que sem essa mudança, o distanciamento entre os dois países poderia se estender por várias décadas.
Futebol Brasileiro em Ascensão:
Por outro lado, o futebol brasileiro tem experimentado uma evolução contínua, com a criação das SAFs e a profissionalização da gestão dos clubes. O aumento de investimentos, a valorização de ativos e o uso da tecnologia têm gerado resultados tangíveis dentro de campo, como o sucesso de equipes brasileiras nas competições continentais. Em 2024, o Brasil poderá conquistar seu sexto título consecutivo da Copa Libertadores, o que reforça a diferença estrutural entre os dois países no esporte.
Especialistas como Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports, e Sara Carsalade, co-fundadora da Somos Young, observam que, enquanto o Brasil investe na modernização de sua infraestrutura e gestão, a Argentina continua com uma estrutura mais arcaica e sem uma revolução que permita reverter a desigualdade financeira. A implementação de SADs, segundo Freitas, poderia acelerar esse processo, tornando o futebol argentino mais competitivo a médio e longo prazo.
A comparação feita por Verón entre as premiações da Copa do Brasil e os torneios argentinos coloca em evidência as desigualdades econômicas que permeiam o futebol sul-americano. Enquanto o Brasil avança na modernização do futebol com a entrada de investidores e a profissionalização da gestão, a Argentina permanece atrasada nesse aspecto, o que torna ainda mais difícil para seus clubes competirem de igual para igual com os gigantes brasileiros. A discussão sobre a implementação das SADs no futebol argentino, defendida por Verón e Milei, ganha cada vez mais força como uma possível solução para esse abismo financeiro.